Bom dia,
amigos.
O tema da Obsolescência
Programada nos remete a uma questão muito em moda nos debates atuais, que é o
problema do consumo. Se por um lado aceitamos a definição de nossa sociedade e
de cada um de nós como consumista, por outro lado vivemos um discurso da
sustentabilidade, da preservação do meio ambiente e da qualidade de vida, que
em certa medida se confronta e até se opõe frontalmente ao modo consumista de
ser.
Ao denunciar um esquema
que nos remete ao consumo como indivíduos, a reflexão sobre a Obsolescência
Programada também nos apresenta as grandes organizações como consumistas e,
muitas vezes, nós somos esse produto de venda e de troca tão caro mesmas, por
outro lado, o processo de mercantilização no qual estamos submersos transforma
em produto consumível uma centenas de outras coisas que, ,muitas vezes, nos
passa despercebidos. Do que estamos falando, quando falamos em consumo?
Não estamos nos referindo apenas ao tênis e à comida,
consumimos tempo, consumimos espaço, consumimos cultura e, como já comentei,
somos muitas vezes matéria de consumo por esses superorganismos do qual fazemos
parte. Posso dar um exemplo: você, assim como eu deve fazer parte de alguma
rede social? E já se perguntou como uma empresa que oferece seus produtos de
graça pode valer milhões? O que elas vendem? Qual é seu produto no mercado?
Muitos respondem a essa questão dizendo que elas ganham esses
milhões por venderem espaço para propaganda, mas, você não acha que é muito
dinheiro para pouco espaço de propaganda? Na verdade o que eles vendem somos
nós. Dados altamente informativos sobre seus clientes. Por exemplo, eles
vasculham seus e-mails, todos os seus e-mails, para saber de palavras chaves e
por elas descobrirem suas preferências e vender essas informações para uma
forma de propaganda altamente especializada em você. (Veja este exemplo: http://www.youtube.com/watch?v=4MHCH56QRcU).
Voltando a nossa questão, Obsolescência
Programada se torna uma saída para o capitalismo em sua segunda fase. Até o
meado dos anos 70 o capitalismo tinha um discurso voltado à poupança. Éramos incentivados
a ganhar dinheiro, mas não a gastá-lo. Nesse momento, os que produziam, não
eram os mesmos que consumiam os bens. O que criava um entrave para o crescimento
da economia, que seria resolvido se os produtores fossem também consumidores
dos próprios bens que produzem. Assim entramos na segunda metade do capitalismo,
na qual nos encontramos ainda hoje. O consumo foi consagrado como elemento de
identidade de cada um. É pelo que consumimos que nos separamos de alguns grupos
dentro da sociedade e nos aproximamos de outros. Ao ponto de Jean Paul
Baudrillard, Autor de "A Sociedade de Consumo "e" O Sistema dos
Objetos", a dizer: “Consumo, logo existo!”
Sabemos que sempre
queremos ficar “bem na fita”, tudo fazemos para que a nossa identidade social
seja a mais auspiciosa possível, gerando um grande desconforto, que Goffman
(2005) vai chamar de “cair a face”, quando somos surpreendido com ações que
desmentem a imagem que gostaríamos de projetar. Ao relacionar o consumo com a identidade
social, a estratégia da Obsolescência Programada faz surgir uma maior expectativa
da sociedade e por consequência, de nós mesmos sobre a nosso existir social. Induz-nos
a consumir não pelo prazer de ter e de nos alegra com o que consumimos, mas como
afirma o sociólogo francês Bourdieu (Consumo como estratégia de distinção (http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/novosolhares/article/viewFile/8085/7462
): o gosto classifica o classificador.
Podemos redefinir então
a estratégia de Obsolescência Programada como um mecanismo que possibilita uma existência
em sociedade em confluência com o nosso discurso identitário. Sabemos que a
nossa sociedade se funda sobre as trocas, não apenas as trocas econômicas, mas
variadas outras trocas e que estamos absolutizando o consumo de modo tal, que
não podemos viver e nem existir socialmente sem ele. Temos, como educadores ter
um pensamento crítico sobre as estratégias que nos leva ao consumo se a
preocupação com a manutenção dos sistemas naturais que os mantém, mas sabemos
que não poderemos eliminar totalmente o consumo de nossas vidas, sendo ele um
poderoso sistema de comunicação, que nos faculta um acesso ao imaginário
popular e nos permite existir em sociedade.
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