24/03/2013

Obsolescência Programada


Bom dia, amigos.
O tema da Obsolescência Programada nos remete a uma questão muito em moda nos debates atuais, que é o problema do consumo. Se por um lado aceitamos a definição de nossa sociedade e de cada um de nós como consumista, por outro lado vivemos um discurso da sustentabilidade, da preservação do meio ambiente e da qualidade de vida, que em certa medida se confronta e até se opõe frontalmente ao modo consumista de ser.
Ao denunciar um esquema que nos remete ao consumo como indivíduos, a reflexão sobre a Obsolescência Programada também nos apresenta as grandes organizações como consumistas e, muitas vezes, nós somos esse produto de venda e de troca tão caro mesmas, por outro lado, o processo de mercantilização no qual estamos submersos transforma em produto consumível uma centenas de outras coisas que, ,muitas vezes, nos passa despercebidos. Do que estamos falando, quando falamos em consumo?
Não estamos nos referindo apenas ao tênis e à comida, consumimos tempo, consumimos espaço, consumimos cultura e, como já comentei, somos muitas vezes matéria de consumo por esses superorganismos do qual fazemos parte. Posso dar um exemplo: você, assim como eu deve fazer parte de alguma rede social? E já se perguntou como uma empresa que oferece seus produtos de graça pode valer milhões? O que elas vendem? Qual é seu produto no mercado?
Muitos respondem a essa questão dizendo que elas ganham esses milhões por venderem espaço para propaganda, mas, você não acha que é muito dinheiro para pouco espaço de propaganda? Na verdade o que eles vendem somos nós. Dados altamente informativos sobre seus clientes. Por exemplo, eles vasculham seus e-mails, todos os seus e-mails, para saber de palavras chaves e por elas descobrirem suas preferências e vender essas informações para uma forma de propaganda altamente especializada em você. (Veja este exemplo: http://www.youtube.com/watch?v=4MHCH56QRcU).


Voltando a nossa questão, Obsolescência Programada se torna uma saída para o capitalismo em sua segunda fase. Até o meado dos anos 70 o capitalismo tinha um discurso voltado à poupança. Éramos incentivados a ganhar dinheiro, mas não a gastá-lo. Nesse momento, os que produziam, não eram os mesmos que consumiam os bens. O que criava um entrave para o crescimento da economia, que seria resolvido se os produtores fossem também consumidores dos próprios bens que produzem. Assim entramos na segunda metade do capitalismo, na qual nos encontramos ainda hoje. O consumo foi consagrado como elemento de identidade de cada um. É pelo que consumimos que nos separamos de alguns grupos dentro da sociedade e nos aproximamos de outros. Ao ponto de Jean Paul Baudrillard, Autor de "A Sociedade de Consumo "e" O Sistema dos Objetos", a dizer: “Consumo, logo existo!”
Sabemos que sempre queremos ficar “bem na fita”, tudo fazemos para que a nossa identidade social seja a mais auspiciosa possível, gerando um grande desconforto, que Goffman (2005) vai chamar de “cair a face”, quando somos surpreendido com ações que desmentem a imagem que gostaríamos de projetar.  Ao relacionar o consumo com a identidade social, a estratégia da Obsolescência Programada faz surgir uma maior expectativa da sociedade e por consequência, de nós mesmos sobre a nosso existir social. Induz-nos a consumir não pelo prazer de ter e de nos alegra com o que consumimos, mas como afirma o sociólogo francês Bourdieu (Consumo como estratégia de distinção (http://www.revistas.univerciencia.org/index.php/novosolhares/article/viewFile/8085/7462 ): o gosto classifica o classificador.
Podemos redefinir então a estratégia de Obsolescência Programada como um mecanismo que possibilita uma existência em sociedade em confluência com o nosso discurso identitário. Sabemos que a nossa sociedade se funda sobre as trocas, não apenas as trocas econômicas, mas variadas outras trocas e que estamos absolutizando o consumo de modo tal, que não podemos viver e nem existir socialmente sem ele. Temos, como educadores ter um pensamento crítico sobre as estratégias que nos leva ao consumo se a preocupação com a manutenção dos sistemas naturais que os mantém, mas sabemos que não poderemos eliminar totalmente o consumo de nossas vidas, sendo ele um poderoso sistema de comunicação, que nos faculta um acesso ao imaginário popular e nos permite existir em sociedade.

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